março 15, 2011

(Ir)remediável (parte III)


[Casa da Margarida, dia 4, noite]
Eu tinha-o visto a ler o “bilhete” e a apenas o guardar, dentro do bolso do casaco. Sentia-me uma idiota por pensar que o que eu pudesse dizer mudasse o que quer que fosse, a verdade era que, o «nós» era coisa que nunca mais iria existir, e eu, teria apenas que me habituar a isso.

[Casa da Margarida, dia 5, manhã]
Acordei, demasiado cedo, pois ele não me saia da cabeça. Não conseguia ignorar tudo o que tinha acontecido, tudo o que tinha passado com ele, tinha sido tudo impossível de esquecer e muito menos o poderia deixar para trás. Tinha uma dor que me esmagava o peito, que me apertava como que se estivesse a tentar dar cabo de mim, aos poucos e, na verdade, estava.
Resolvi ligar-lhe, não aguentava mais isto. Sabia que era cedo, mas precisava de lhe dizer qualquer coisa, qualquer coisa que fosse.
O telefone tocava e tocava e nada, ele não atendia. Achei estranho, ele atendia sempre, nem que fosse para desligar depois .. Liguei-lhe para casa e voltava a não atender.


[Entrada da casa do John, dia 5, manhã]
Vesti-me, à pressa e, ignorando que tinha de ir às aulas, e que talvez ele próprio já se tivesse dirigido ao colégio, comecei a correr em direcção á casa dele. Quando cheguei à casa dele encontrei os estores todos puxados para baixo, as portadas fechadas, as portas e os portões trancados e, preso á porta, encontrava-se um envelope, com a minha morada e o meu nome escrito com letras grandes «MARGARIDA». Não me consegui conter e rasguei o envelope. Dentro deste encontrava-se uma fotografia nossa sob a qual dizia “Não deixes a memória perder o que eu guardo no coração”. As lágrimas teimavam em correr por muito que eu tentasse fazê-las parar, o meu esforço era inútil. Tentei acalmar-me e, contando até dez, respirando uma e outra vez, desdobrei a folha de papel que se encontrava junto da fotografia. Comecei a lê-la:
“Margarida, meu amor, tenho de te pedir desculpa por tudo o que te fiz passar neste 4/5 dias, não mereço nenhuma lágrima que deitas-te por mim. A verdade é que tentei evitar falar contigo, explicar-te o motivo de tudo isto porque, na verdade, eu não sabia. Não sei porque acabei contigo, não sei porque desisti de nós, não sei porque te afastei da minha vida, não sei. Amei-te e amo-te como nunca amei ninguém. Preciso que leias tudo até ao fim, na verdade eu sempre fui um cobarde, sempre fugi das responsabilidades, sempre deixei as coisas para a última da hora, mas conosco não. Junto a ti sempre me senti livre, sempre me senti diferente de mim, sentia que podia fazer tudo, agia pelo impulso do momento e do coração, eras tu e o meu amor por ti que me guiavam e vi-me perdido. Aquelas pequenas frases que me escreves-te no outro dia fizeram-me perceber que tenho de ir, de ir para longe, para que tu possas recomeçar a tua vida, de novo, do zero, apenas sei que gostava que, algures no teu coração, houvesse um lugar em que, pudesses lembrar-te de nós, sem uma lágrima, apenas com felicidade e ai saberia que tu ainda gostavas de mim mas que já não sofrias e que tinhas seguido em frente. Eu vou partir, mas levo-te comigo. Nunca te vou esquecer. Perdoa-me e até um dia. Não tentes vir atrás de mim, não me vais encontrar, mas eu vou estar sempre a tomar conta de ti. Eu amo-te, nunca duvides disso, mesmo que não entendas as minhas escolhas, estou a fazer o que acho melhor…”
Não sabia o que fazer, comecei a correr, a correr em direcção á colina, onde nós havíamos passado tantos Verões juntos. Corria com as lágrimas nos olhos e apenas com um pensamento “onde estás?”. Cheguei lá a cima e sei que, só uma coisa me ocorreu e foi o que fiz. Gritei por ti, com toda a minha voz, gritei por ti, pelo teu nome e para que voltasses. Sabia que só o vento me iria ouvir e, talvez, ele um dia te trouxesse.

“Não deixes a memória perder o que eu guardo no coração”

FIM [inventado]


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