abril 09, 2011

Carta de Despedida V

Martim: Ainda não sei bem, qualquer sítio.
Gonçalo: Tu não podes sair daqui assim, só porque queres, não podes deixar tudo para trás, tu estás de cabeça quente, pensa no que dizes.
Martim: Já pensei, mais que uma vez. Já sei ...
Gonçalo: Então?
Martim: Vou alistar-me.
Gonçalo: O quê?! Na tropa?! Queres ir para a guerra é isso?! É definitivo, enlouqueces-te.
Martim: Não, é mesmo isso. Ela via ficar orgulhosa de mim, vou fazer algo de útil com a minha vida.
Gonçalo: Mas estás parvo? Podes morrer!
Martim: E depois? Ela também morreu e a culpa foi minha. É isso mesmo, é o que vou fazer, ela vai orgulhar-se de mim, vais ver; vou ser um bom soldado, vou-lhe dar um motivo de orgulho, vou fazer algo com a vida que ela deixou nas minhas mãos!
Sem dar hipóteses a Gonçalo de responder saiu porta fora, alegou que voltava rápido e para ele esperar ali e começou a correr em direcção ao quartel da cidade que se situava a mais ou menos vinte minutos, a pé, de casa dele.
Martim: Queria alistar-me!
Soldado: Dirige-te a secretaria se faz favor. Fala com uma funcionária que se encontra atrás do balcão número 5.
Martim: Está bem, obrigada.
Entrou na secretaria e dirigiu-se ao balcão que o soldado lhe tinha indicado, falou com a funcionaria, preencheu os papeis e entregou-os.
Enquanto arquivava os papeis a funcionaria disse: Daqui a uns dias vais receber, em casa, uma carta a dizer o dia em que tens de comparecer no quartel.
Martim: Que seja o mais rápido possível se faz favor.
Funcionária: Isso é tudo amor à pátria? -riu-se.
Martim: Pode dizer-se que sim. Sim, que seja isso. Até depois então.
Martim dirigiu-se a casa onde ainda se encontrava Gonçalo à sua espera.
Gonçalo: Fizeste-o?
Martim: Sim, fiz.
Gonçalo: Mas que pensas tu que vais provar com isto? Podes morrer. Porque não esperaste mais algum tempo até teres a certeza das coisas?
Martim: Não penso provar nada, apenas a quero orgulhosa - disse, já com uma lágrima no canto do olho - E se morrer? Se morrer morri, mas fiz algo útil e vou ter isso na consciência. Esperar para quê? Se esperasse esse tempo só iria servir para tu tentares demover-me Gonçalo e não digas que não.
Gonçalo: Martim ... - Abanou a cabeça, mostrando que desaprovava a ideia, mas baixou os braços, pois sabia que não podia fazer mais nada.
Martim: Gonçalo tenho a certeza que é isto que quero.
Gonçalo: E quando vais?
Martim: Não sei, daqui a uns dias devo receber uma carta. Aí irei embora ...

[inventado]

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