abril 05, 2011

Carta de Despedida II

Todos os dias, Martim, dirigia-se à campa de Matilde, sentava-se em frente à sua lápide cinzenta, fria à qual já pouca gente ia e sob a qual se encontrava apenas "Matilde Costa 1991-2011".
Toda a gente, ou quase toda, conhecia Matilde; ela sempre tinha sido, uma rapariga alegre, querida, amiga de todos e que se preocupava mais com os outros do que consigo .. E agora? Agora sim, via-se; via-se que muita gente facilmente se esquecia de pessoas boas, pessoas que tinham sempre feito os outros felizes. - Indignava-se Martim, ao pensá-lo.
Passava lá, junto À lápide fria, entre uma e duas horas, ao fim da tarde e fazia sempre, sem excepção, o mesmo: contava-lhe o seu dia, pedia-lhe desculpa pelo que tinha feito, escorria-lhe uma lágrima ou outra, dizia que ainda a amava e o quanto gostaria de puder mudar a situação, levantava-se, deixava sob a campa um lírio branco dizia: "eram as tuas preferidas Matilde" e suspirava. Após isso dirigia-se a casa e fechava-se no quarto onde, chorava até adormecer, de cansaço.
Martim, inclusive, pensara já muitas vezes em "ir ter com ela", ele sabia onde o pai guardava as armas e já, por mais que uma vez, ele se tinha dirigido até lá de noite, com a carta que Matilde lhe deixara, na mão, lia-a e relia uma e outra e outra vez, agarrava numa pistola, e erguia-a na sua direcção, apertava o gatilho e, pela sua cabeça, passavam as palavras de Matilde "ou-te a minha vida, por isso, vive e vive feliz" e perdia a coragem, ele tinha de (tentar) ser feliz, por ela, pelo menos, por ela. Olhava para uma fotografia deles, que tinha na sua carteira, que sempre tivera na sua carteira, na qual agora escrevia na parte de trás "Eu prometo, mais tarde
ou mais cedo, eu vou ter contigo!"

[inventado]

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